A Perturbação de Personalidade Borderline e o estigma laboral
Uma integração social de indivíduos com PPB passa, não só mas também, pelo mundo laboral, no qual estas pessoas encontram inúmeras desigualdades devido ao seu padrão de instabilidade nas relações interpessoais, impulsividade e dificuldade na regulação emocional, que associados a um ambiente de trabalho adverso, caracterizado por stress e pressão constantes, geram prejuízo no seu aproveitamento profissional. Isto aliado ao estigma provoca uma grande prevalência de dificuldades em obter e manter emprego, aumentando a exclusão social e a deterioração da saúde física/mental destes indivíduos (Juurlink et al., 2018; Juurlink et al., 2019).
A desregulação emocional leva-os a ficar sobrecarregados com as suas emoções, originando uma compreensão mais pobre sobre os comportamentos resultantes das mesmas, sendo assim mais propensos a relatar problemas interpessoais, o que pode conduzir a comportamentos impulsivos. Os sintomas da PPB estão associados a piores condições de trabalho, menor capacidade de decisão e baixo apoio dos colegas (Juurlink et al., 2018; Juurlink et al., 2019; Yuzawa & Yaeda, 2020).
Grande parte dos programas de tratamento para estas pessoas negligencia a parte laboral (Yuzawa & Yaeda, 2020), sendo, por isso, necessário que o psicólogo assuma um papel de relevância, especialmente na diminuição das fraquezas e promoção dos pontos fortes destes trabalhadores, como o trabalho árduo e o empreendedorismo.
Da mesma forma, é de salientar a importância de potenciar uma melhor saúde mental e aproveitamento laboral, de modo a reduzir a impulsividade e melhorar competências interpessoais.
O psicólogo tem ainda a crucial tarefa de diminuir o estigma contra pessoas com PPB, sendo esta uma das principais causas da dificuldade destas pessoas para arranjar e manter emprego. Isto pode ser conseguido através de formações, para que não só estes trabalhadores se sintam mais acolhidos, como também os seus pares se mostrem mais apoiantes e educados, de forma a tentar reduzir conflitos interpessoais, causados por ambas as partes.
Concluindo, o estigma é um dos pilares principais que perpetuam as desigualdades que as pessoas com PPB encontram nas várias áreas das suas vidas e que as impede de ter um tratamento adequado. Para combater isto é necessário educar os vários profissionais dos diversos contextos, incluindo os psicólogos, no sentido de promover um tratamento multidisciplinar, empático, compassivo, imparcial e com base na validação dos sentimentos destas pessoas.
Referências
- Juurlink, T. T., Vukadin, M., Stringer, B., Westerman, M. J., Lamers, F., Anema, J. R., Beekman, A. T. F., & Van Marle, H. J. F. (2019). Barriers and facilitators to employment in borderline personality disorder: A qualitative study among patients, mental health practitioners and insurance physicians. PLoS ONE, 14(7), e0220233. https://doi.org/10.1371/journal.pone.022023
- Juurlink, T. T., Have, M. T., Lamers, F., Van Marle, H. J. F., Anema, J. R., De Graaf, R., & Beekman, A. T. F. (2018). Borderline personality symptoms and work performance: a population-based survey. BMC Psychiatry, 18(1). https://doi.org/10.1186/s12888-018-1777-9
- Yuzawa, Y., & Yaeda, J. (2020). Difficulties in the workplace for people with borderline personality disorder: A literature review. Pacific Rim International Conference on Disability and Diversity Conference Proceedings. Honolulu, Hawai'i: Center on Disability Studies, University of Hawai'i at Mānoa.
Autoria: Beatriz Zilhão e Marta Ferreira, 2024